Sendo a emigração uma realidade cada vez mais comum nos dias de hoje, não resisto a partilhar esta história.
Esta é a história da Mariana (médica em início de doutoramento) contada sob o seu olhar enérgico e determinado.
É o primeiro email escrito aos amigos após a aterragem à sua nova morada, num misto de sentimentos.
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“Cheguei! É oficial, é mesmo o centro do mundo! Ou então talvez não… Enfiei-me num buraaaco!!! Lol
A viagem, fazendo uma descrição the american way, foi great, fantastic! A versão pessimista mas resignada portuguesa descreveria a expedição como tendo tido uma série de azares, mas poderia ter corrido pior, não houve baixas nem feridos.”
Agora a verdade, nua e crua… Depois de uma demonstração de enorme coragem, de vontade de ultrapassar o medo do desconhecido, o receio do isolamento, a saudade dos que ficam, estava pronta para entrar no avião e abraçar esta aventura às 14:30H. Mas quis o destino que isso não acontecesse. Os astros não estavam alinhados por forma a que eu conhecesse a cidade que me vai acolher à noite, mas antes sob a luz brilhante do sol de verão do meio dia. À noite todos os gatos são pardos. Além disso sou míope, e toda a gente sabe que a escuridão desorienta os míopes, ao que parece o olho fica mais redondo ou então mais espalmado… Na verdade a oftalmologia quase não saiu no exame da USMLE*, não faço ideia…
Pois então um atraso de 5 horas na minha partida para Boston, reteve-me nesta última, nem de longe vi o avião para North Carolina. Dormi no Hilton em frente ao aeroporto, com voucher para jantar e piqueno, cortesia da SATA. No dia seguinte, pasma-se, não havia voo directo para Durham. Então não é o centro do mundo? Tive que passar
primeiro por Washington, cumprimentar o Obama e yes I can! E assim foi, desafiando toda a lógica, consegui chegar a esta terra. Mas acho que preferia ter ficado em Boston ou Washington…
A minha casa fica no meio do nada, numa zona residencial, onde ir de uma casa para outra implica comer um bom pequeno-almoço porque mesmo que os vizinhos nos alimentem, é muito tempo a caminhar… O campus ainda nem o consegui ver!!! Após uma longa jornada, que mais parecia a caminhada de 40 dias de Jesus pelo deserto (perdoem-me os teólogos qualquer imprecisão, já foi há algum tempito, mais de 2000 anitos é natural que a memória me falhe), sob um sol tórrido, lá encontrei o banco e um supermercado, parco de conteúdo mas não de preços, onde comprei alguns mantimentos, que com o contraste entre o calor do dia e o fresco dos alimentos rapidamente
se estatelaram no chão deixando um enorme rasgão no saco! As distâncias são proibitivas. Estou indecisa entre arranjar um carro ou uma bicla. Não consegui tratar de mais nada…
Felizmente à noite chegou a minha housemate, uma holandesa, cujo nome se escreve Loes, mas se pronuncia Lucy qual famosa antepassada australopiteca. A miúda é uma lufada de ar fresco! Para começar partilha comigo a net, esse bem tão precioso que anseio mais do que a água para beber. A minha amizade pela Lucy não australopiteca consolidou-se quando me mostrou no mapa onde é a piscina. Culminou dizendo-me que me vende a bicla quando se for embora, dentro de um mês. O problema é o que é que eu faço até lá! Lol!
Termino com a certeza de que amanhã será outro dia! Seja lá o que isso quer dizer! Mariana¶
*USMLE: United States Medical Licensing Examination
Boa sorte para todos os que andam a desbravar terreno desconhecido!
A viagem, fazendo uma descrição the american way, foi great, fantastic! A versão pessimista mas resignada portuguesa descreveria a expedição como tendo tido uma série de azares, mas poderia ter corrido pior, não houve baixas nem feridos.”
Agora a verdade, nua e crua… Depois de uma demonstração de enorme coragem, de vontade de ultrapassar o medo do desconhecido, o receio do isolamento, a saudade dos que ficam, estava pronta para entrar no avião e abraçar esta aventura às 14:30H. Mas quis o destino que isso não acontecesse. Os astros não estavam alinhados por forma a que eu conhecesse a cidade que me vai acolher à noite, mas antes sob a luz brilhante do sol de verão do meio dia. À noite todos os gatos são pardos. Além disso sou míope, e toda a gente sabe que a escuridão desorienta os míopes, ao que parece o olho fica mais redondo ou então mais espalmado… Na verdade a oftalmologia quase não saiu no exame da USMLE*, não faço ideia…
Pois então um atraso de 5 horas na minha partida para Boston, reteve-me nesta última, nem de longe vi o avião para North Carolina. Dormi no Hilton em frente ao aeroporto, com voucher para jantar e piqueno, cortesia da SATA. No dia seguinte, pasma-se, não havia voo directo para Durham. Então não é o centro do mundo? Tive que passar
primeiro por Washington, cumprimentar o Obama e yes I can! E assim foi, desafiando toda a lógica, consegui chegar a esta terra. Mas acho que preferia ter ficado em Boston ou Washington…
A minha casa fica no meio do nada, numa zona residencial, onde ir de uma casa para outra implica comer um bom pequeno-almoço porque mesmo que os vizinhos nos alimentem, é muito tempo a caminhar… O campus ainda nem o consegui ver!!! Após uma longa jornada, que mais parecia a caminhada de 40 dias de Jesus pelo deserto (perdoem-me os teólogos qualquer imprecisão, já foi há algum tempito, mais de 2000 anitos é natural que a memória me falhe), sob um sol tórrido, lá encontrei o banco e um supermercado, parco de conteúdo mas não de preços, onde comprei alguns mantimentos, que com o contraste entre o calor do dia e o fresco dos alimentos rapidamente
se estatelaram no chão deixando um enorme rasgão no saco! As distâncias são proibitivas. Estou indecisa entre arranjar um carro ou uma bicla. Não consegui tratar de mais nada…
Felizmente à noite chegou a minha housemate, uma holandesa, cujo nome se escreve Loes, mas se pronuncia Lucy qual famosa antepassada australopiteca. A miúda é uma lufada de ar fresco! Para começar partilha comigo a net, esse bem tão precioso que anseio mais do que a água para beber. A minha amizade pela Lucy não australopiteca consolidou-se quando me mostrou no mapa onde é a piscina. Culminou dizendo-me que me vende a bicla quando se for embora, dentro de um mês. O problema é o que é que eu faço até lá! Lol!
Termino com a certeza de que amanhã será outro dia! Seja lá o que isso quer dizer! Mariana¶
*USMLE: United States Medical Licensing Examination
Boa sorte para todos os que andam a desbravar terreno desconhecido!
Que ilustração perfeita! Acho que nada ilustraria melhor o meu sentimento de emigrante! E o texto da Mariana está absolutamente sublime! As contrariedades do início, o sentimento da partida... Força Mariana! Continuação de bom trabalho Catarina!
ResponderEliminarAqui vão boas energias para aí! Beijinho.
EliminarAdorei o desenho! Está o máximo! Beijinhos.
ResponderEliminarCatarina, Ainda bem que publicaste este email porque está realmente fantástico. Eu desconhecia os dotes escribas da Mariana até começar a receber estes relatos maravilhosos. São pérolas!
ResponderEliminarCom a tua ilustração fica perfeito!
Parabéns às 2!
Olá Telma, obrigada.
EliminarImpossível não ficar contagiada com as palavras da Mariana.
A ilustração está linda, o texto está maravilhoso! Coragem Mariana!!!
ResponderEliminarPara a Sara, que está do lado oposto à América, muitos beijinhos***
Beijinhos também para Lisboa, Joana.
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